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Quase 50 mil casas foram atingidas por desastres ambientais no Piauí em uma década

Foto: Jailson Soares

“Toda ocupação humana tem um preço”, a frase do arquiteto e urbanista Carlos Kaiser resume o cenário atual enfrentado no Brasil após os desastres que atingiram o Rio Grande do Sul. Um problema que já afetou quase 50 mil famílias no Piauí. Um estudo publicado pela Confederação Nacional dos Municípios aponta que no estado, 47.567 casas foram danificadas ou destruídas por desastres ambientais na última década.

Somente nos primeiros cinco meses de 2024, mais de 100 moradias foram danificadas no Piauí por desastres ambientais. No âmbito nacional, mais de cinco milhões de pessoas tiveram suas moradias destruídas ou danificadas nos últimos dez anos e tiveram de abandoná-las em função de desastres. O estudo da CNM apresenta um panorama das situações de emergência ou estado de calamidade pública que tiveram prejuízos em habitação e cruza as informações com números federais de decreto de emergência.

No levantamento atual, o Piauí é 14º estado da República com o maior número de moradias danificadas de 2013 a 2023, um total de 47.018 residências atingidas. Já quanto a moradias destruídas, o estado figura em 18º lugar com 549 imóveis derrubados por desastres ambientais. Dentre os principais desastres que podem atingir o Piauí, quatro são catalogados como mais preocupantes: as enxurradas, as inundações, alagamentos e deslizamentos.

Um cenário que mostra a necessidade de medidas mais efetivas, como explica Carlos Kaiser, que é conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Piauí.

“O caso do Rio Grande do Sul serviu de exemplo, de alerta para o Brasil todo. Aqui em Teresina nós temos grandes áreas que serviam como drenagem natural e foi se construindo em cima, quando houver chuva de 50,60, 100 milímetros a gente vai ver exatamente essas áreas não conseguindo drenar as águas e provocando alagamentos”, destaca o especialista.

“As cidades de maiores populações do Piauí são cidades que quando tem chuvas de altos milímetros, não conseguem drenar as águas. Por vezes a gente vê os níveis de água na malha urbana atingindo cotas de um metro, isso é danoso. A gente tem sempre que respeitar a natureza, toda ocupação humana tem um preço. Esse preço é cobrado depois. Todas as vezes que as cidades ocupam áreas sem respeitar as águas isso vem depois, em forma de alagamento, em forma de ilhas de calor. A gente tem que aprender a conviver com o meio ambiente de forma a alterá-lo o mínimo possível, e quando alterar perceber no horizonte quais são as consequências dessa ocupação”, afirma o arquiteto urbanista.

Com a intensificação das mudanças climáticas provocadas pela ação humana no meio ambiente, o número de desastres ambientais e climáticos tem aumentado em todo o mundo. No Brasil, o governo federal mapeou 1.942 municípios suscetíveis a desastres associados a deslizamentos de terras, alagamentos, enxurradas e inundações, o que representa quase 35% do total dos municípios brasileiros.

No Piauí, são 47 cidades selecionadas com risco de ocorrência de desastres. Estes municípios concentram mais de dois milhões da população estadual. Deste montante o órgão cataloga 75 piauienses em áreas de risco geo-hidrológicos.

Atuação da defesa Civil reduz índices em 2024

Enquanto o momento é mais desafiador em outros estados do país, no Piauí o cenário em 2024 apresenta uma tendência de queda no número de casos de acordo com o estudo. O Piauí está entre os estados com o menor número de moradias destruídas com quatro imóveis nos primeiros cinco meses de 2024. Após os desastres de maio, o Rio Grande do Sul lidera a lista com 9.505 moradias destruídas.

“A Secretaria tem atuado para a construção de planos de contingência para orientar as políticas públicas de resposta e ações reparativas. São ações para garantir a segurança das comunidades e reassentar a população, repondo aquilo que foi perdido. A gente identifica quais áreas podem ser atingidas por determinado tipo de desastre, um exemplo são as enchentes e inundações. Nós temos populações ribeiras que estão dentro de planícies de inundação de rios. Sempre que há uma cheia essas comunidades são atingidas, há a necessidade de um cadastro e mapeamento dos municípios que pleiteiam o recurso junto a nossa plataforma federal. A defesa civil dá todo o suporte técnico para esses municípios” explicou o técnico.

Werton salienta ainda a importância de um bom diálogo com o governo federal.

“A palavra-chave é a parceria com o Ministério das Cidades que tem a atribuição de construir esses projetos. Neste sentido, a defesa civil tem desenvolvido duas ações, a primeira é uma ampla atualização dos cenários de risco do estado e a outra é com o Ministério das Cidades para desenvolvimento das obras de contenção, para a estruturação de obras nessas áreas mais graves. Essas obras de contenção permitem a população a conviver com mais segurança em um contexto de risco. São os diques, os muros de arrimo, que são fundamentais para a segurança das populações”, finalizou.

Boa relação com a natureza pode ser o caminho

Enquanto as grandes cidades caminham para a verticalização e a redução de áreas verdes, o arquiteto e urbanista Carlos Kaiser aponta a redução da impermeabilização do solo e uma “reconciliação” com a natureza como a alternativa para a redução de desastres.

“A gente tem um plano diretor que prevê a taxa de impermeabilidade nas cidades, nos anos 70 era muito comum que a população tivesse áreas nuas, cada vez mais se diminui as áreas permeáveis nas cidades. O asfalto reduz essa taxa que deveria girar em torno de 6% em um município. O poder público tem que iniciar um trabalho de troca para pavimentações drenantes, também deve se observar as calçadas. São várias políticas para que se direcione para o sustentável. A gente tem visto o aumento da ocorrência de danos climáticos, a gente não precisa esperar ocorrer algum desastre para a gente tomar as medidas, podemos fazer antes um programa de gerenciamento para que a gente tome ações mais rápidas”, concluiu o especialista.

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Fonte: O Dia