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Professor analisa alta do preço da gasolina em comparação com o salário mínimo

Leio o texto do professor e bancário Hélio Nunes Ferreira sobre a alta no preço da gasolina e faz a comparação com o salário mínimo atual.

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O preço da gasolina comum no estado do Piauí nos últimos 10 anos

Por Hélio Nunes Ferreira

O preço da gasolina ganhou muito destaque nos últimos meses, ocupando o noticiário nas suas diversas mídias, e causando maior repercussão entre os consumidores. Tais fatos motivaram este autor a analisar o comportamento dos preços praticados pelos postos de combustíveis no estado do Piauí nos últimos dez anos, a partir de dados do levantamento de preços ao consumidor disponível no site da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Foram coletados dados do mês de agosto de cada ano, abrangendo o período de 2011 a 2020, e para 2021, os dados de julho, que são os mais recentes até a elaboração deste texto. Os valores médios do litro de gasolina comum foram organizados na segunda coluna (da esquerda para direita) da tabela 1 abaixo, juntamente com o valor do salário mínimo vigente em cada época (terceira coluna), cujos valores foram extraídos da base de dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Para complementar, a quarta coluna traz a quantidade média de litros de gasolina comum comprados com um salário mínimo em cada mês de agosto do ano de referência, de acordo com o preço vigente no respectivo ano.  

Como o brasileiro ainda cultiva o hábito de referenciar alguns preços no salário mínimo, a tabela 1 objetiva analisar a relação entre este e o poder de compra que ele tem em termos de quantidade de litros de gasolina. De 2012 a 2017, observa-se certa estabilidade, ficando a média em 248,06 litros de gasolina por salário mínimo.

A partir de 2018, já se verifica expressiva queda, sendo 213,90 litros nesse ano, 221,78 litros em 2019 e 232,74 litros em 2020. O menor valor até então observado foi o de 2011, ou seja, 204,12 litros. Em julho de 2021, todavia, a queda acentuou-se mais ainda, passando para uma média 177,13 litros. Isso significa que o salário mínimo de agora compra 13,22% menos gasolina no Piauí do que comprava há dez anos. 

Mas o salário mínimo é um preço e, do ponto de vista da técnica econômica, a análise de preços é mais relevante quando contempla o valor do dinheiro no decorrer do tempo. Por isso, convém fazer um estudo que permita relacionar os valores com a inflação.

Dessa maneira, a tabela 2 abaixo, em sua segunda coluna, mostra os preços vigentes da gasolina comum no Piauí (os mesmos expressos na segunda coluna da tabela 1 acima), agora juntamente com atualização dos valores pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), a partir do mês e ano de referência até o mês de julho de 2021, na coluna três. Os valores foram atualizados através da “calculadora do cidadão”, disponibilizada pelo Banco Central do Brasil, tendo como referência o mês de julho de 2021. Isso explica a repetição do preço vigente em julho/2021 nas colunas 2 e 3.

Os números evidenciam que o preço da gasolina passou a ter elevação mais expressiva a partir de 2018, quando comparado a anos anteriores. De 2011 até 2017, o preço oscilou no intervalo entre R$ 4 e R$ 5. Em 2018 ultrapassa o teto anterior, chegando a R$ 5,19. Manteve-se acima de R$ 5 em 2019, caindo para R$ 4,93 em 2020 e ultrapassa os R$ 6 em 2021. De agosto de 2020 a julho de 2021, o preço saltou de R$ 4,93 para R$ 6,21, alta de 25,96% acima da inflação (em apenas um ano!).

Fazendo uma analogia, é como se um litro de gasolina, que possui 1.000 ml, evaporasse parte do conteúdo e passasse a conter apenas 793,88 mililitros. Não é por acaso, portanto, que o tema ganhou tanto destaque no noticiário e nas discussões pelo público em geral no decorrer deste ano, afinal, representa um peso relevante no orçamento das famílias.

Hélio Nunes Ferreira é graduado em Administração, Ciências Contábeis e, atualmente, cursa Bacharelado em Matemática. É bancário, professor, especialista em investimentos financeiros (com as certificações CPA20 e CEA) e Planejador Financeiro Pessoal (CFP®), certificado pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (PLANEJAR).