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Hábitos de consumo sofrem mudanças diante da pandemia do Covid-19

Foto: UOL

Um estudo realizado pela plataforma criativa MECA e pela empresa de pesquisa Talk Inc revelou mudanças de hábitos, comportamento e novos desafios pós-coronavírus. A pesquisa mostrou que, diante da pandemia de Covid-19, e das orientações de distanciamento social, não somente a vida social e o trabalho foram afetados, mas as perspectivas para o futuro e o senso de responsabilidade.

Dentre os entrevistados, 48% tiveram suas rendas afetadas (e esse percentual aumenta para 72% entre as famílias de baixa renda). Além disso, mais da metade das pessoas declararam consumir mais notícias que anteriormente e a TV aberta é o principal meio de informação dos entrevistados; 71% afirmam ter mudados seus hábitos de consumo e 81% veem uma lado positivo no isolamento social, especialmente por estarem passando mais tempo com a família (59%).

Com relação às mudanças de consumo, o consultor de Marketing e professor universitário Yuri Ribeiro conta que o cenário da pandemia veio para acelerar esse processo, que já era previsto e estava acontecendo no mercado como um todo, especialmente no campo da moda. Segundo ele, a discussão sobre as transformações já estavam acontecendo e algumas mudanças já estavam sendo implantadas, dentre elas a mentalidade em relação ao consumo.

“Antes, já vínhamos em um processo onde estamos questionando um posicionamento mais forte das marcas em relação a um consumo mais sustentável, práticas éticas e responsáveis. E no cenário de pandemia as atenções se voltam totalmente para as marcas. Nosso formato de sociedade hoje é baseado no consumo simbólico, ou seja, consumir o que tem um significado para nós, e as marcas funcionam como tribos, no qual as pessoas consomem porque se identificam com o discurso. Então, agora estamos em um momento em que precisamos nos posicionar para sair de um cenário de crise e de uma realidade que nos foi imposta. É normal e estamos vendo com mais frequências as pessoas cobrando posicionamento das marcas, que é uma cobrança do consumidor”, explica.

O consultor de Marketing destaca ainda que no momento que as marcas emitem um posicionamento, isso faz com que o consumidor reveja seu consumo. Isso quer dizer que, se a empresa for contrária ao que ele pensa, ele deixará de consumir. Já se for algo no qual ele acredite, o consumidor continuará consumindo. Nesse modo, as pessoas não buscam apenas um posicionamento de venda das empresas, pois isso não está importando tanto no momento atual. O consumidor busca um comprometimento dessa marca com o outro.

“Tudo que realizamos, em termos de prática no dia a dia, desde ouvir uma música em um aplicativo, no qual consumimos tanto a música como o aplicativo; ou um jornal, que consumimos tanto a informação como a emissora, é como nos definimos enquanto ser social e indivíduo. A compra de produtos pode ter diminuído por conta das possibilidades de compras, já que as pessoas não estão podendo ir fisicamente comprar. Contudo, estudos mostram que vendas pela internet aumentaram 35%, ou seja, as pessoas não estão deixando de comprar, mas estão mudando os canais de compra e buscando marcas que tenham um posicionamento”, destaca.

Sobre as perspectivas pós-coronavírus, Yuri Ribeiro enfatiza que ainda é incerto precisar como será daqui para frente, tanto o mercado como os rumos da economia. Entretanto, ele lembra que esse novo futuro será ditado pelo próprio consumidor e seu modo e necessidade de consumir os pro- dutos pós-pandemia.

“Hoje é muito difícil prever para onde o mercado vai e os rumos da economia, em termos de consumo daqui para frente. Em outros momentos pós-crise as pessoas voltaram a consumir e o mercado se adaptou a esse discurso para a economia poder retornar, mas hoje diversos fatores afetam diretamente o comportamento e perfil do consumidor. Eu acredito que tenham duas possibilidade: a primeira é de que tenha uma demanda reprimida, ou seja, as pessoas que estavam em isolamento estavam segurando a vontade e assim que tiveram oportunidade voltaram a consumir. Mas também pode acontecer das pessoas priorizarem o consumo, revendo o que realmente precisam e não precisam, revendo o excesso e produtos desnecessários. O isolamento está fazendo com que os valores sejam transformados e esses valores mudados”, pontua o professor e consultor de Marketing.

Por: Isabela Lopes, Jornal O Dia