DestaquesGERAL

Em 35 anos, Caatinga já perdeu 35% de sua vegetação nativa

Foto: Júnior Lopes

Diante da exuberância da Mata Atlântica e da Amazônia, a Caatinga sempre foi pouquíssima valorizada e estudada. Acreditava-se que a aridez de seu solo em muitas áreas era sinônimo de pouca diversidade de animais e plantas. Um engano enorme. Essa concepção distorcida é refletida também na legislação ambiental para protegê-la. Quarto maior bioma do Brasil, com 860 mil km2, ela tem só pouco mais de 2% de seu território preservado por unidades de conservação de proteção integral.

O resultado desse desconhecimento histórico sobre a importância da Caatinga também pode ser observado na enorme destruição que o bioma sofreu nas últimas décadas. Em 35 anos, ela já perdeu 35% de sua vegetação nativa.

Os dados fazem parte de um estudo que reuniu pesquisadores de diversas instituições do Brasil e do exterior e foi publicado recentemente pela revista científica internacional Land. A análise aponta que a perda da vegetação nativa provocada pelo desmatamento e conversão de áreas naturais somou 6,57 milhões de hectares, uma área maior do que o território do estado da Paraíba.

“O trabalho mostra a necessidade urgente de iniciativas abrangentes de conservação, restauração e práticas sustentáveis de uso do solo para a Caatinga”, alerta Washington Rocha, pesquisador da Universidade Estadual de Feira de Santana e principal autor do estudo. “E a ciência, os dados e o monitoramento devem estar no centro da tomada de decisão”.

De acordo com o levantamento, a transformação na cobertura e uso da terra na Caatinga revela variações ao longo dessas três décadas. O declínio mais significativo aconteceu entre 1985 – 1995, exatamente quando houve o maior avanço da agricultura sobre o bioma. Na sequência aparecem os períodos entre 1995 – 2005, 2005 – 2015 e 2015 – 2019, quando também foram registradas grandes perdas de cobertura vegetal, resultado da maior expansão agropecuária.

No artigo da Land, os autores apontam que a redução da vegetação nativa na Caatinga se deu em todas as categorias: declínio de 12% de formações naturais não florestais, queda de 11% de savanas e de 8% de formações florestais. Os pesquisadores também comprovaram uma redução de 24% na superfície de água.

“É crucial adotar técnicas agrícolas sustentáveis para gerir eficazmente as demandas da produção agrícola e, ao mesmo tempo, salvaguardar o ecossistema do bioma Caatinga”, afirma Jefferson Ferreira-Ferreira, pesquisador do WRI Brasil e um dos coautores do artigo. “Conservar e restaurar a Caatinga requer esforços coordenados entre os decisores políticos, os gestores de terras e as comunidades locais”.

Por Suzana Camargo
Portal Conexão Planeta