Após o Congresso ter se tornado o principal foco de atrito com o ex-chanceler Ernesto Araújo, parlamentares comemoraram nesta segunda-feira (29) a saída do ministro das Relações Exteriores, mas sinalizaram que vão manter a pressão para evitar a nomeação de um nome ideológico para o posto. Ernesto Araújo pediu demissão nesta segunda-feira depois de pressão da cúpula do Congresso, que responsabilizava o ex-chanceler por omissão no enfrentamento à pandemia.
Agora, o Legislativo espera que o substituto do chanceler seja um nome considerado não ideológico –o ex-ministro era admirador declarado do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo.
O líder da maior bancada do Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), afirma que aguarda a manifestação oficial do governo confirmando a saída de Ernesto Araújo, mas adianta que será importante a escolha de um novo que retome princípios das relações exteriores brasileiras. “Eu acho que é mais importante saber quem será o novo chanceler do que comentar a saída desse. Precisamos de um chanceler que possa fazer com que nossas relações exteriores sigam um caminho construtivo e que nos faça superar as questões relativas a vacinas”, afirmou Braga ao jornal Folha de S.Paulo.
“Em relação à questão ideológica, eu acho que não há espaço para essas questões em diplomacia internacional. O Ernesto não tem importância. O importante é o Brasil e não o Ernesto. E espero que o Brasil acerte na escolha do novo chanceler.”
O Senado se tornou um dos principais focos de atrito com Ernesto Araújo. O episódio mais recente, considerado estopim para a saída, foi uma postagem nas redes sociais do ex-ministro, na qual insinua uma ligação do Senado com o lobby chinês pelo 5G, o que, segundo ele, estaria por trás da pressão para derrubá-lo do posto.
Ernesto já havia sido alvo de grande cobrança, acusações de falta de capacidade e pedidos de demissão ao participar de uma sessão do Senado na quarta-feira da semana passada. Na ocasião, nem mesmo líderes do governo no Congresso saíram em sua defesa.
A saída de Ernesto, portanto, uniu membros governistas e também da oposição, em um movimento raramente visto no Congresso.
Líder do PL no Senado, bancada de apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Carlos Portinho (PL-RJ), comemorou a saída do chanceler. “Achei ótimo que ele tenha saído. Fiquei mal impressionado só de ouvi-lo no senado. Péssima oratória. Imagino em outra língua como deve ser. Dá pra ver que era um péssimo interlocutor”, afirmou.
O líder do Cidadania, Alessandro Vieira (Cidadania-SE), afirmou que Ernesto não estava preparado para ocupar o cargo de chanceler, resultando em prejuízos para o país. “O ministro Ernesto não mostrou em nenhum momento capacidade para ocupar uma cadeira tão importante. Despreparado e com posicionamentos radicais, causou prejuízos severos para o país, em especial na disputa geopolítica pelas vacinas”, afirmou.
Fonte: folhapress