O prefeito de Campo Grande do Piauí, médico Francisco José Bezerra, o Dr. Tico (PSD), e o vice-prefeito médico Elias Ramos (PSD), assumiram o Município no dia 1° de janeiro de 2021 sabendo que o início seria desafiador para reestruturar a administração. Eles estavam cientes, através do trabalho da equipe de transição, que a situação estava caótica. A coordenadora da equipe de transição, Eliciana Maria Bezerra Sousa, em entrevista ao Boletim do Sertão, informou que a sede da prefeitura está insalubre e a frota de veículos depredada.
Ela narrou que logo após a vitória do Dr. Tico, no dia 15 de novembro, a equipe de transição protocolou o pedido para ter acesso aos documentos da prefeitura no dia 18 do mesmo mês. As dificuldades começaram aí, pois a gestão anterior não queria permitir o acesso da equipe para que esta desenvolvesse o seu trabalho. Foi então que recorreram junto a justiça o direito de ter acesso às informações da administração municipal.
“A nossa primeira visita não foi fácil, foi bem polêmica, por conta da resistência de nos receber, mas a partir de muitas conversas iniciamos a transição que foi com uma reunião que aconteceu no dia 03 de dezembro”, relatou.
Em posse de alguns documentos, Eliciana informou que a equipe deu início às visitas aos prédios públicos. Ela disse que considerou o ambiente da sede da prefeitura insalubre, com sujeira e muito descaso, caracterizando depredação. “Descaso, depredação, o que é pra ser frigobar virou armário, geladeira, ventilador, tudo quebrado, e limpeza zero, tá aí as fotos para mostrar”, denunciou.
O prédio onde hoje funciona a prefeitura de Campo Grande foi comprado com recursos próprios pelo Dr. Tico na sua primeira administração, entre 2013-2016. Eliciana enfatiza que a sede foi entregue em bom estado, mas recebida em péssima situação. “Eles não conservaram os prédios, tá tudo aí, como as fotos mostram”, declarou.
Eliciana pediu paciência a população nesse início de administração, uma vez que caberá a Dr. Tico reestruturar prédios e veículos. “Peço paciência e compreensão, Dr. Tico foi um grande gestor, buscou adquirir mais e nesse momento se encontra em uma situação de dificuldade, então é a hora de sentar e saber por onde começar, mas agora ele e o Dr. Elias precisam de apoio”, declarou.
Saúde
Dayro Coutinho, que também integrou a equipe de transição, informou que foi realizada a inspeção predial das unidades de saúde do Município. Ele relatou que as UBS precisam de reparos, destacando que a parte elétrica do Centro da Covid deve ser melhorada. A unidade de saúde onde funciona o NASF e a que fica sediada no povoado Carnaíba, segundo Dayro, precisam de reparos imediatos, apresentando desgastes nas paredes. “Para ser mais confortável para atender a população”, declarou.
Sobre as ambulâncias, a nova gestão está recebendo três ambulâncias, uma das quais será equipada para ser uma semi-UTI. Uma dessas ambulâncias está em desuso, devido a problemas mecânicos por falta de manutenção.
“A frota de veículos da saúde também apresenta muitas avarias, alguns transportes se perderam no tempo, por falta de manutenção e investimento para o seu pleno funcionamento, a única solução será o leilão”, frisou Dayro.
Recursos não aplicados
Gilberto José de Brito, também integrante da equipe de transição, afirmou que a situação do patrimônio público de Campo Grande é “deplorável”. Ele se declarou “atônito” com o que encontrou. Munido de documentos, Gilberto informou que o Município recebeu 10 repasses do governo federal em 2020, através Programa Nacional de Apoio ao Transporte (PNAT), R$ 76 mil para a manutenção do transporte escolar.
“Como estamos num ano em que as escolas só funcionaram por 30 dias, e aqui nem isso, o repasse do transporte escolar deveria ter sido pago de combustível e locação apenas um repasse, o que corresponde a R$ 7.633,00, o que acontece, todo o repasse, exceto uma parte do último, uma cifra de R$ 2 mil, era o que constava na conta bancária do Município no dia 30 de dezembro”, relatou.
Gilberto salienta que o Ministério da Educação recomenda que o transporte escolar seja reformado constantemente. “Nós recebemos recomendação do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) que esse repasse deveria ter sido gasto na melhoria dos veículos, e recebemos dois ônibus com as baterias arriadas, nem as portas abrem, não tivemos acesso às chaves dos veículos, em um deles a bateria está ausente”, declarou.
Gilberto questiona como foram usados os R$ 66 mil repassados através do PNAT, uma vez que apenas R$ 8 mil foram aplicados no primeiro mês e somente R$ 2 mil estavam em conta.
Veículos depredados
Gilberto cita a situação dos 30 veículos que compõe a frota da prefeitura, dos quais apenas cinco estão em funcionamento. “Os veículos estão em uma situação de abandono no pátio da Prefeitura Municipal”, declarou.
Ele destacou que há veículos em situação de abandono há três anos, caso da retroescavadeira, onde há plantas crescendo em seu interior; carros com para-choque, parabrisa, janelas, lanternas quebradas, ausência de baterias, pneus carecas, ausência de manutenção e dois carros que terão de ser leiloados, uma vez que nada mais se aproveita nesses automóveis.
O veículo Fiat Toro, usado pelo gabinete do prefeito, embora pertencesse a Educação, também possui avarias como as imagens comprovam. A Sprint da Educação também está sem bateria e com problemas no sistema eletrônico. Quanto aos tratores, também estavam sem bateria, o que inviabilizou a verificação do sistema elétrico. O caminhão caçamba conseguido pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), está parado.
“O prefeito vai ter de aplicar uma leva de mais de R$ 100 mil para aquisição de baterias e peças para que os veículos sejam levados a uma autorizada para saber de fato como esses veículos se encontram”, declarou.
Alimentação escolar
Quanto a merenda escolar, Gilberto informou que foram distribuídos três repasses de alimentos, embora o governo federal envie em média 10 repasses para alimentação escolar de forma fracionada.
“Os repasses eram para terem sido encaminhados a população através de alimentos, já que os alunos não estavam tendo aula em sala, apenas remotas, então esse repasse foi totalmente utilizado, e a população só começou a receber as cestas básicas por força de lei, porque a Comarca de Jaicós solicitou que o Município distribuísse em 72 horas, e no depósito de merenda da Secretaria de Educação não foi entregue um só alimento do Programa Nacional de Alimentação”, denunciou.
O espaço fica aberto caso a gestão anterior queira se manifestar sobre as denuncias.