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Piauiense que vive em Portugal relata como está sendo a volta a normalidade após o pico da pandemia naquele país

Nilza Carvalho está em Portugal desde 2019

A piauiense Maria Nilza Carvalho P. Américo, jornalista e professora, está vivendo em Portugal desde 2019, quando iniciou o seu mestrado na Universidade do Minho. A pedido do Boletim do Sertão ela enviou um relato sobre como está sendo a retomada das atividades econômicas naquele país após a passagem pelo pior momento da pandemia do coronavírus. Nilza informou que os portugueses seguiram corretamente as normas de isolamento e que a retomada das atividades econômicas está acontecendo gradualmente.

Embora no Brasil as atividades comerciais estejam sendo retomadas também, a diferença é que ainda não chegamos no pico da pandemia. Ou seja, as pessoas estão saindo às ruas enquanto os casos de Covid-19 aumentam.

Natural de Paulistana, Nilza residiu alguns anos em Picos, período em que se formou em jornalismo pela Uespi e trabalhou na impensa local. Ela passou pela TV Picos e apresentou o programa de rádio denominado Diário das 14h, veiculado em várias emissoras. Ela também foi assessora do Hospital Regional Justino Luz (HRJL) e lecionou na Faculdade R.Sá.

Município de Braga em Portugal. Foto: Nilza Carvalho

Confira o relato

Desde o dia 04 de maio, quando começou a primeira fase do desconfinamento, o gráfico de infectado tem descrescido dia a dia, assim como o número de óbitos, isso fez com que as demais fases fossem colocadas em prática. Primeiro a abertura dos pequenos comércios, 15 dias depois as escolas secundárias e creches, pois os pais tiveram de voltar a trabalhar, e na terceira fase, que já foram liberados os centros comerciais de grande porte e alguns espetáculos, como limitação de plateia.

Portugal foi muito disciplinado, durante a quarentena e obteve resultado positivo, pois em menos de 60 dias, a contaminação diminui e também não colapsou o sistema de saúde. Entretanto, como todos países afetados, o impacto econômico foi bem grande, o número de desempregados está bem alto, algumas empresas fecharam e não voltaram a funcionar e muitos trabalhadores continuam no regime de lay off, que o governo oferece subsídios para ajudar as empresas que ficaram fechadas durante a quarentena, em que o funcionário recebe dois terços do salário, sendo que é paga uma parte pela segurança social e outra menor pela empresa.

Foi um período bem triste, até mesmo desesperador, os ônibus e trens vazios, as ruas desertas, os condomínios silenciosos, apesar dos habitantes estarem em casa, principalmente as crianças, pois não havia aulas, mas era como se houvesse um pacto de silêncio, meus ouvidos se incomodavam com aquele ruído inexistente, com a falta do barulho do motor vital. Nesse tempo a gente voltou os olhos para a natureza, para ver as folhas renascendo nas árvores, que foram despidas pelo inverno, para ver o colorido das flores no início de primavera, ou apenas para ouvir passar o vento.

 

Município de Braga em Portugal. Foto: Nilza Carvalho

Felizmente, pouco a pouco as ruas foram sendo reavivadas, como ervas depois da chuva. Renascendo a esperança de volta à “nova normalidade”, pois muita coisa mudou, já não somos os mesmos. Não vemos mais apertos de mãos cordiais, as interações mais próximas entre desconhecidos que se encontram num espaço público, nem mesmo os abraços calorosos no reencontro inesperado de velhos amigos nas praças.  O brilho do rosto, provocado pelo sorriso espontâneo foi ofuscado pelo tecido das máscaras. Para se perceber as reações emotivas temos de ser muito detalhistas, necessitamos ter sensibilidade para ver o brilho dos olhos, que traduz os sentimentos escondidos pela máscara e sufocados pelo distanciamento social.

Em Braga tem uma rua por onde sempre passo, bem no centro histórico da cidade, ponto turístico da cidade, antes da pandemia era muito movimentada, e durante o período de confinamento, não via ninguém, se tornou um beco morto, mas, depois do dia 4, data da inicial da abertura, eu passei por essa rua e fui surpreendida. Havia crianças passeando, adultos conversando nas mesas de restaurantes e, o mais bonito, um músico (que costumava ter no local e também havia desaparecido), que através das notas tiradas do violino, trazia uma mensagem de esperança, e eu pude sentir o cheio de vida germinando, até me emocionei com aquele despertar para a vida novamente. Como se visse uma luz no túnel escuro e sentisse o oxigênio renovando através daquela fresta libertadora.