O Cruzeiro é um dos pontos mais marcantes e conhecidos de Picos, por onde milhares de pessoas passam, se benzem, ascendem velas, expressam a sua fé diariamente. É um lugar de devoção. Contudo, ele possui uma história que talvez poucos conheçam. A sua origem remonta a ano de 1913.
Segundo arquivo do Museu Ozildo Albano de Picos, em 1913 ocorreu um homicídio numa “boate” localizada naquelas imediações. Naquela época uma missão católica formada por freis capuchinos e liderada pelo bispo Dom Otaviano, estava visitando Picos. O crime causou comoção entre a pacata população da época.
Como forma de homenagear a vítima e as missões, Dom Otaviano fincou uma cruz de madeira no local do homicídio. A cruz era simples e cercada por algumas pedras para ter sustentação. O tempo passou e as pessoas fizeram do Cruzeiro um local de devoção, fazendo orações e acendendo velas.
A chegada dos automóveis a Picos foi acompanhada da barbeiragem dos motoristas, que nos é tão comum na atualidade. Não raras vezes, automóveis colidiam com o Cruzeiro e o derrubavam, mas os moradores o erguiam novamente. Isso aconteceu muitas vezes.
Com a grande cheia do rio Guaribas de 1960, a água chegou até a Rua do Cruzeiro. Passado o sofrimento provocado pela cheia, um morador das imediações de nome José de Sousa Moura procurou o Pe. José Inácio de Jesus Madeira para que a igreja fizesse um novo Cruzeiro, bem fundamentado, de cimento, com uma base sólida. O padre informou que a igreja não dispunha de condições financeiras naquele momento para realizar a obra.
Contrariado, José de Sousa Moura decidiu iniciar a obra por conta própria. Ele recebeu muito apoio dos vizinhos, que doavam materiais para a construção. O senhor Quincas Bezerra foi até José de Sousa e lhe ofereceu ajuda.
Após concluída a obra, José de Sousa Moura continuou zelando pelo Cruzeiro. Uma das administrações passadas de Picos cogitou remover o Cruzeiro dali, mas os moradores se organizaram e não permitiram.
Com o falecimento do senhor José de Sousa, o Cruzeiro ficou quase abandonado, rachado, carecendo de revitalizações.
Foi então que as senhoras Acelina Maria de Matos e Vilma Oliveira (autoras do texto de onde as informações para esta publicação foram extraídas), procuraram a prefeitura, na época da segunda administração do prefeito Gil Paraibano (2009-2021), e conseguiram que o Cruzeiro fosse reformado. Algumas missas foram celebradas anualmente no local.
O Cruzeiro segue de pé, como um marco da cristandade da população picoense e da luta do povo em favor do que acredita.