Por: Profa. Marinalva Neiva
Paulo Freire nasceu em Recife-PE no dia 19 de setembro de 1921. Morreu em 1997. Foi nomeado com todo mérito o Patrono da Educação Brasileira em 2012 pela lei: 12612. Figura lendária e de uma grandiosidade ímpar. Mas Por que Freire é vítima de tantos ataques e a quem incomoda tanto sua obra e sua filosofia freiriana? Cabe algumas explicações. Será porque o educador toca numa ferida aberta da sociedade brasileira no que respeita à relação de opressores versus oprimidos? Será porque em sua pedagogia da educação popular com prioridade nas classes vulneráveis e culturas marginalizadas como os pobres, os pretos, os favelados, os quilombolas, os ribeirinhos serem os centro e a razão da pedagogia freiriana? A conscientização política do povo, em nome da emancipação social, cultural e política das classes sociais excluídas e oprimidas ainda incomoda o poder atualmente constituído? Afinal de contas, sua metodologia dialógica foi considerada perigosamente subversiva pelo regime militar, o que rendeu a Freire o exílio por mais de uma década.
O processo de marginalização da pedagogia freiriana provém de setores conservadores que continuam tão reacionários quanto na época da ditadura. Uma grande contradição uma vez que a ideologia dominante que está no poder foi eleita pelo cidadão pobre, negro, nordestino também. Essa rejeição à figura de Freire, embora muitos desconheçam suas obras, reflete o não reconhecimento do povo como sujeito de direitos e a não aceitação de que os oprimidos possam refletir sobre sua condição e mudarem sua realidade.
Comemorar o centenário de Paulo freire é celebrar a vida, a pessoa humana e as ideias iluministas que dão voz às classes menos favorecidas. É uma honra à sua notável memória. Pois sua grandeza como educador, teórico, pensador e sobretudo como ser humano é inquestionável. Foi o criador de uma pedagogia essencialmente humanista que transcende o tempo, a vida e as pessoas. Sua obra retrata a realidade das pessoas carentes, pobres e oprimidas com foco na transformação social do ser político, histórico e cultural. Sua imensurável contribuição extrapola as fronteiras da educação, do conhecimento visto que também contribuiu com as artes, a ciência, os movimentos populares e com a engenharia.
Plantou e colheu um legado acadêmico e cultural como forma de ser, ver e sentir o mundo de uma maneira peculiar. Sua pedagogia, ou melhor suas ideias, evidenciam mecanismos de opressão das pessoas oprimidas bem como o reconhecimento de sua cultura e de seu valor como pessoa, instigando-as a pensarem em sua condição de oprimidas e a se reconhecerem como sujeitos ativos de sua própria história e como condição de conquistarem sua autonomia por meio do pensamento crítico-reflexivo, da consciência de suas potencialidades, da descoberta de si mesmo, de sua realidade palpável e do mundo ao seu redor. Sua metodologia dialógica reflete uma profunda e inexorável percepção de fazer as pessoas se libertarem da condição de dominados e de inferiores por meio de uma educação transformadora e libertária. Suas obras valorizam a essência da pessoa humana, a cultura, os saberes prévios e a realidade contextual em que a pessoa está inserida social, cultural e politicamente.
A obra freiriana constitui uma antologia educacional e cultural de excelência e de renomado prestígio que extrapola as fronteiras do mundo visto ser um dos autores mais citados e referenciados em pesquisas acadêmicas na área das humanas. Como em Pedagogia do Oprimido que é a terceira das obras mais citada no mundo, segundo dados do Instituto Paulo Freire em São Paulo. É uma grande inspiração não só para pedagogos e especialistas das áreas humanas, mas para filósofos, sociólogos e estudiosos de áreas afins. Dizer que a pedagogia freiriana é doutrinária, é outra falácia justamente porque, para ele, a educação é um ato político e cultural que não se confunde com política partidária, pois coloca a educação a serviço da promoção e do desenvolvimento da pessoa humana, da formação de valores e princípios éticos e de cidadania plena em diálogo permanente com o reconhecimento e o respeito à valorização da cultura do povo, das comunidades carentes com reais possibilidades de discutir o mundo que queremos e a sociedade que almejamos.
Nessa perspectiva, Paulo Freire é imortal. Continua vivo nas mentes sedentas de conhecimentos. Permanece vivo nos corações daqueles que acreditam num mundo de dignidade, de justiça e de direitos com equidade. Sua obra, sua pedagogia e suas ideias são transcendentais. Pois continuam tão atuais e em consonância com as necessidades dos injustiçados. Aos que o atacam, ele responde com a implacável metodologia da autonomia. Aos que o ofendem, ele reponde com amor e respeito às milhares de vidas que se emanciparam por meio da educação que priorizou as classes populares. Aos que marginalizam sua biografia, ele responde, por meio de sua notável figura humana e de seu brilhantismo intelectual, com uma legião de freirianos e freirianas que buscam ressignificar sua metodologia e sua pedagogia, mantendo viva sua memória e seu legado cultural e acadêmico pelo brasil afora.
Enfim, a figura emblemática e genial de Freire transcende o tempo, o espaço e as visões de mundo com as múltiplas pedagogias que ele presenteou o Brasil, a América Latina e o mundo. Suas obras são conhecidas em mais de 30 países e ganhou dezenas de prêmios nacionais e internacionais em razão de sua antológica contribuição acadêmica e científica. Suas obras são verdadeiros manifestos de crítica e de reflexão ao retratar a opressão, as injustiças das elites e das classes dominantes contra os mais vulneráveis, evidenciando sua luta em favor das liberdades e da democracia. Assim, o conhecimento foi sua arma mais afiada no combate à pobreza e à miséria do povo oprimido. Que tenhamos dentro de nós um Paulo Freire iluminando mentes e corações para que o obscurantismo do ódio e do negacionismo não façam parte de nossas vidas como educadores. Que a esperança e o amor tenham moradia eterna na luta pela igualdade, liberdade e respeito aos diferentes numa sociedade plural e que sejamos farol na luta por melhores dias e pela garantia de um mundo mais justo e humano.
Viva as ideias e o legado acadêmico e cultural de Paulo freire! Viva o Patrono da Educação Brasileira! Viva o centenário de Paulo Freire! Viva o patrimônio imortal da humanidade!
“As ideias de Paulo Freire continuam válidas não só porque precisamos ainda de mais democracia, mais cidadania e de mais justiça social, mas porque a escola e os sistemas educacionais encontram-se hoje frente a novos e grandes desafios.” Gadotti
“À medida que o ódio cresce, a nossa amorosidade tem que crescer o dobro. Na medida em que o silêncio cresce, nós vamos ter de fazer o diálogo avançar. Na medida em que a mentira cresce, nós vamos cada vez mais ter que propor movimentos de reflexão.” Liana Borges
Marinalva dos Santos Neiva Morais é formada em Letras/Português/Inglês. Especialista em Língua Portuguesa, Educação Global e Cidadania, Libras, Gestão Educacional e Tecnológica e Educação Infantil. Professora das áreas das Linguagens dos cursos de Direito, Jornalismo, Administração e Ciências Contábeis e Computação da Faculdade R. Sá. Sou professora aposentada do Estado e ativista dos movimentos sindicais.